Alessandra Sampaio, viúva de Dom Philips (O Povo) |
As audiências de instrução que antecedem o julgamento dos três acusados que estão presos em Manaus e devem ir à júri popular estavam confirmadas para acontecer ainda em janeiro deste mês, mas foram subitamente adiadas para março devido à indisponibilidade de salas para que os presos acompanhassem as audiências e por “falhas na comunicação”, segundo justificou o juiz Fabiano Verli.
Em julho de 2022, o Ministério Público Federal (MPF) acusou cada um dos envolvidos por duplo homicídio qualificado e ocultação de cadáver em um dos dois inquéritos abertos para investigar os detalhes dos crimes e a participação. São eles: Amarildo da Costa Oliveira (o “Pelado”) – assassino confesso das vítimas –, seu irmão, Oseney da Costa Oliveira (o “Dos Santos”), e Jefferson da Silva Lima (o “Pelado da Dinha”). Os três estão presos.
Até então a denúncia havia descartado um mandante para o crime, mas o caso teve uma reviravolta quando foi confirmado que Ruben da Silva Villar, o ‘Colômbia’ foi o mandante. Segundo o superintendente da PF no Amazonas, Eduardo Fontes, em coletiva na segunda-feira (23), ‘Colômbia’ conversou nas vésperas e depois do crime com os assassinos.
Enquanto os trâmites legais se desdobram aos poucos e aos trancos, Alessandra Sampaio, viúva de Dom Philips, reconstrói a vida e a rotina disposta a preservar o legado do marido. Ainda não há nada concreto, a não ser a certeza de que precisa ser algo que tenha a cara dele. “Quero fazer algo com a cara do Dom, o menos vaidoso possível e com objetivo.”
Alessandra, que afirmou conhecer a Amazônia somente por meio dos relatos e do olhar de Dom, agora traça sua própria jornada para se aproximar da região e da floresta. “Tudo o que tenho feito é estudado e lido. É como se eu estivesse voltando para a faculdade”, disse Alessandra, em entrevista à Amazônia Real.
Enquanto mergulha no tema, Alessandra Sampaio espera pelo julgamento dos algozes de Bruno e Dom. Ela, que se frustrou com a denúncia inicial do MPF por não ter apontado um mandante para o crime e também não o considerou como premeditado, afirmou que a justiça só será considerada como feita quando os povos indígenas e seus territórios estiverem de fato protegidos.
“A justiça será feita mesmo quando os povos da floresta forem respeitados, quando as demarcações estiverem funcionando, quando tiver fiscalização e quando essas populações não-indígenas não estiverem tão à mercê da miséria”, afirma.
A Amazônia Real entrevistou Alessandra
Sampaio em dezembro do ano passado, pouco antes do Natal. Na conversa
online, ela conta como tem passado os dias desde a morte do
companheiro, quais são os planos para o futuro e suas expectativas
para o julgamento. A aliança de casamento Dom continua pendurada em
seu pescoço e uma nova tatuagem com a frase, “Amazônia, sua
linda”, a última que Dom publicou em suas redes sociais cinco dias
antes de desaparecer, não é descartada.