Primatas em terras indígenas (Divulgação Fapesp) |
A série de guias de bolso sobre primatas acaba de ganhar mais um exemplar. Dessa vez, o foco são as 29 espécies conhecidas de macacos que ocorrem no estado de Rondônia. Cada espécie acompanha uma – ou várias – ilustrações coloridas, nome científico e popular, além da distribuição geográfica e estado de conservação nacional e internacional. O guia de identificação, que conta textos em português e inglês, é uma colaboração entre diversos pesquisadores e instituições de pesquisa, com apoio financeiro da Re:wild.
Situado na porção ocidental da Amazônia brasileira, o estado de Rondônia possui uma grande diversidade de primatas. As 29 espécies de primatas conhecidas atualmente incluem desde pequenos saguis, como o endêmico sagui-de-rondônia (Mico rondoni), até o grande e esguio macaco-aranha-de-cara-preta (Ateles chamek).
“Os grandes rios da região, como o rio Madeira, funcionam como barreiras para algumas espécies de primatas e acredita-se que sejam os propulsores da diversidade de espécies e da variação morfológica”, explica o guia, que destaca que o número de espécies pode mudar num futuro próximo.
A publicação inclui ainda um mapa de Rondônia, com a localização das unidades de conservação e das Terras Indígenas, assim como estradas, rios e principais localidades. Todas as ilustrações e o design do guia são de autoria de Stephen D. Nash, que também ilustra os demais guias da série.
O guia está disponível gratuitamente e a versão em pdf pode ser baixada aqui.
PESQUISA CIENTÍFICA
O trabalho é fruto da dissertação de mestrado defendida pelo recém-mestre em Ciências Biológicas, Fabrício Paiter Suruí, sobre a Ethnoprimatologia do povo Paiter-Suruí. O estudo fez com que Fabrício se tornasse o primeiro Ethnoprimatólogo indígena no Brasil.
Os primatas catalogados habitam o território Sete de Setembro na região entre os municípios de Cacoal, Espigão D'Oeste e Rondolândia, nos estados de Mato Grosso e Rondônia: onde vive o povo Paiter-Suruí.
A montagem do trabalho contou com a colaboração de diversos pesquisadores não indígenas das áreas de mastozoologia, primatologia, ilustrador; especialistas tradicionais indígenas e velhos anciãos que vivem no território e que contribuíram para a catalogação.
No processo de criação, todos cruzaram informações a respeito dos primatas, o que, segundo Fabrício, foi essencial e garantiu com que os resultados da pesquisa fossem relevantes e úteis para a conservação da biodiversidade e o bem-estar das comunidades indígenas.
Segundo o criador, o guia disponibiliza um material didático que valoriza e fortalece o conhecimento tradicional dos povos originários auxilia na conservação dos primatas que habitam a reserva Sete de Setembro.
De acordo com Fabrício, o guia será uma ferramenta valiosa para educar e inspirar outras pessoas a apreciarem e proteger a biodiversidade e a cultura do Povo Paiter.
“Certamente representa um marco importante na minha carreira acadêmica e na preservação da cultura que combina o estudo dos primatas para compreensão das interações entre esses animais e o povo”, disse.
Fabrício também contou que pretende continuar desenvolvendo outros trabalhos pautados em ciência e saberes indígenas para o presente e o futuro no local e regiões. Segundo o pesquisador, quando se une conhecimentos científicos com as ricas tradições e perspectivas dos povos indígenas, não apenas enriquece o campo da ciência, mas também fortalece a valorização e preservação das culturas e territórios dos povos originários.
(O ECO/G1RO)