Baixo volume de água no rio Madeira acelera estiagem severa em Rondônia

Pesquisadores e poder público planejam ações de enfrentamento contra seca e altas temperaturas
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FRANCISCO COSTA
13 junho 2024
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Seca do rio Madeira início de 2024 (Foto: Prefeitura de Porto Velho-RO)

"É preciso garantir a segurança das populações em áreas vulneráveis, reduzindo os impactos negativos, particularmente graves para as populações ribeirinhas, que ficam isoladas, com dificuldade de obter produtos e serviços essenciais", diz o Censipam


A estiagem em 2024, evolui de maneira rápida em Rondônia no mês de junho. O rio Madeira perdeu cerca de quatro metros do volume de água em quinze dias. Em 27 de maio, a régua que marca o nível indicavam 9,6 metros. Nesta quinta-feira, 13, registrava 5,30 metros. No mesmo período no ano passado, atingiu 8,68. O cenário de evolução da seca preocupa especialistas.

De acordo com previsões do Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia (Censipam), a seca neste ano e as altas temperaturas devem ultrapassar os recordes do ano passado. No recente boletim hídrico divulgado pelo Governo de Rondônia, de 3 a 10 de junho, o rio Madeira marcava 6,11 metros em Porto Velho. Em 2023, no mesmo período media 4 metros acima dessa marca, registrando 9,56 metros.

Em maio, a Defesa Civil de Porto Velho alertou que em virtude da redução das chuvas na cabeceira do rio, a tendência seria de recuo das águas, devido ao início do período conhecido como ‘verão amazônico’. A bacia do rio Madeira sofre influência em 74% das chuvas que caem na Bolívia, 12% pelas chuvas do Peru e apenas 14% das águas pluviais que chegam ao solo brasileiro.

Agência Nacional de Águas (ANA) fez previsões de que há uma tendência elevada para seca extrema do Madeira nos próximos meses. “A Defesa Civil segue realizando monitoramento constante. Inclusive, instituímos um gabinete para agirmos de forma antecipada, buscando apoio e estrutura para enfrentamento de escassez hídrica, caso se consolide o que está previsto”, comentou Elias Ribeiro, coordenador da Defesa Civil em Porto Velho. 

A crise hídrica pode desencadear uma série de prejuízos econômicos e sociais, com a possibilidade de uma crise no abastecimento de combustíveis e mantimentos, que chegam até a capital via fluvial, pelo Madeira. Na seca histórica de 2023, mais de 15 mil pessoas ficaram sem água. Para garantir o abastecimento da população com água potável neste ano, a prefeitura planeja construir poços artesianos.

O Censipam diz que a falta de chuvas ocorre em razão da persistência do fenômeno climáticos, iniciados em junho de 2023 e ainda ativo apesar de enfraquecido. "A continuidade do El Niño traz um cenário preocupante no que diz respeito a recuperação do nível dos rios após a última vazante, tendo em vista que estamos vivendo a intensificação destes extremos, e a possibilidade do La Niña se estabelecer entre junho e agosto deste ano"

MOBILIZAÇÃO DO PODER PÚBLICO

A prefeitura da Capital encaminhou ao ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, um documento solicitando providências para prevenção e enfrentamento à crise hídrica que afetará a navegação, geração de energia, acesso à água, alimentos e medicamentos.

Segundo a prefeitura, existe necessidade de planejamento antecipado, com a autorização para o transporte de combustível e outros produtos, seja por meio fluvial ou por rodovias, para que sejam estocados, buscando-se mitigar problemas com a seca emergencial e iminente.

"Recebemos, com surpresa e preocupação, o entendimento recentemente manifestado pelo Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), informando que as chuvas no início e no fim de janeiro de 2024 nas bacias das regiões Norte e Nordeste, favorecendo a melhoria das afluências nestas regiões e com isso indicou que estaria superada a situação de crise hidrológica de seca na Região Norte do País, sob o ponto de vista de disponibilidade de geração nas usinas hidrelétricas", informa o documento ao ministro.

Na Assembleia Legislativa, a deputada estadual Cláudia de Jesus (PT) propôs à Secretaria de Estado do Desenvolvimento Ambiental de Rondônia (Sedam) a criação de um Plano Estadual de Adaptação à Mudança do Clima (PEA-MC). "A necessidade de um plano como o PEA-MC é clara. Precisamos de um esforço coordenado para proteger nossas comunidades e recursos naturais dos efeitos cada vez mais severos das mudanças climáticas," declarou a deputada.

EVENTO SOBRE A SECA 

Diante desse panorama, o Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia (Censipam) realizará a edição de 2024 do evento "Pré-Seca"  dia 26 de junho. O evento reunirá profissionais de diversas instituições governamentais e não governamentais do Brasil para discutir as condições climáticas e hidrológicas atuais das principais bacias hidrográficas e traçar prognósticos para a seca de 2024. 

O público-alvo do evento inclui a Defesa Civil dos Estados e Municípios da Amazônia Legal, órgãos ligados à temática hidrológica e meteorológica, geração de energia, transportes fluviais e rodoviários, secretarias de meio ambiente estaduais e municipais, administração de portos e universidades. 

Segundo o monitor ambiental público "é preciso garantir a segurança das populações em áreas vulneráveis, reduzindo os impactos negativos, particularmente graves para as populações ribeirinhas, que ficam isoladas, com dificuldade de obter produtos e serviços essenciais". 

"Além dos graves prejuízos ambientais, a seca também traz perdas significativas para a população e a economia local, pois não afeta apenas o abastecimento de água, mas também resulta em perdas na produção agropecuária e prejuízos para a geração de energia elétrica, erosão do solo, aumento da vulnerabilidade a incêndios, problemas de saúde e dificuldades na navegação", informa o Censipam.

Rio Madeira em Porto Velho, RO (Foto: Prefeitura de Porto Velho)



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