Ponte destruída por invasores é reconstruída na TI Karipuna

Indígenas acusaram os invasores de destruir a ponte, após ação do governo federal na região
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Voz da Terra
8 julho 2024
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Ponte reconstruída na TI Karipuna (Foto: Funai)

Redação Voz da Terra

A operação de desintrusão na Terra Indígena Karipuna, organizada pelo Governo Federal, está em andamento. Na última semana, uma das ações foi a reconstrução da ponte de acesso à aldeia dos karipuna. A ponte havia sido destruída criminosamente há duas semanas.

Sua reconstrução, que durou cinco dias, envolveu agentes do Exército, Ibama e Funai, sob a coordenação da Casa Civil. A ponte, localizada a 12 quilômetros da aldeia, é a única forma de acesso terrestre ao local onde vivem os 40 karipuna. Sem a ponte, os indígenas estavam isolados.

Entenda o caso

O Voz da Terra recebeu vídeos, áudios e documentos onde lideranças acusam os invasores de destruírem uma ponte improvisada, feita de troncos de madeira, que era o único acesso ao território. "Os criminosos continuam atuando aqui. Cortaram a ponte que leva à aldeia Karipuna", diz um morador em um vídeo, mostrando a ponte destruída. A estrutura, usada por veículos e pedestres, foi danificada no dia 30 de junho. "O governo não está fazendo nada. Mesmo com a desintrusão, o crime ainda está presente no território, nos isolando. Esperamos ações sérias das autoridades", afirma o morador.

No final de junho, o cacique André Karipuna já havia solicitado uma base permanente de operações do governo no território. "O trabalho está progredindo bem, mas queremos uma base permanente para garantir mais operações de proteção. Os invasores provavelmente vão voltar", disse ele.

Os indígenas não querem apenas segurança. Eles pedem políticas públicas de saúde, educação, infraestrutura, segurança alimentar, assistência social e ações sustentáveis para sobreviver. "Estamos sob grande ameaça. A desintrusão pode aumentar os riscos, e isso nos preocupa. Nos sentimos mais seguros agora, mas tememos o futuro", disse o cacique.

"Estamos sofrendo ataques e retaliação dos invasores. Eles cortaram a ponte para dificultar nosso acesso", alerta Adriano Karipuna, principal líder indígena. Essa ponte foi destruída pelos invasores há cinco anos, durante a "Operação Ajuricaba V", que visava desarticular organizações criminosas na região. Naquela ocasião, uma comitiva Karipuna denunciou os crimes ambientais na ONU e no Vaticano.

Adriano destaca a necessidade de medidas protetivas após a desintrusão. "Precisamos de vigilância contínua e a reativação do posto de vigilância na divisa, no igarapé Fortaleza, em União Bandeirantes", reclama ele.

Os Karipunas

A Terra Indígena Karipuna tem 153 mil hectares e a população indígena está distribuída em duas comunidades. Devido ao histórico de extermínio, as comunidades são pequenas e compostas majoritariamente por jovens que trabalham nas vilas e distritos de Porto Velho. A região enfrenta ameaças constantes de madeireiros e garimpeiros ilegais que exploram recursos naturais, contaminam rios e colocam em risco a saúde da população local, além de ameaçar a cultura e a organização social dos povos indígenas.

Dados da Plataforma Brasil Mais indicam que, em 2023, foram registrados 51 alertas de desmatamento na TI Karipuna, uma redução de 88% em comparação com os 435 alertas de 2022.

Os invasores

A desintrusão, que visa retirar invasores, especialmente garimpeiros e madeireiros ilegais, é essencial para preservar a organização social, costumes, língua, crenças e tradições dos indígenas. A etnia Karipuna, hoje com poucos membros, corre risco de extermínio. A operação, que continuará até o final de julho, também busca combater crimes na região, erradicar o trabalho análogo à escravidão e promover a sustentabilidade ambiental. O governo promete medidas para impedir o retorno dos invasores.

A desintrusão na TI Karipuna utiliza tecnologia avançada, incluindo aplicativos de navegação georreferenciada, drones e um sistema de monitoramento das ações. Essa estrutura garante a eficiência da operação.

O processo cumpre determinações do STF e da Justiça Federal para assegurar a proteção territorial indígena e a preservação ambiental. A ADPF 709 do STF, em novembro de 2023, ordenou à União a preparação de planos para retirar invasores de várias terras indígenas. Em março, a Corte homologou os planos operacionais, incluindo o Plano de Monitoramento e Desenvolvimento Continuado (MDC), que destaca a necessidade de planejamento adaptado a cada comunidade.

O governo federal afirma que, após a desintrusão, haverá monitoramento e um plano de sustentabilidade do território, em parceria com o Ministério dos Povos Indígenas (MPI) e o Ministério da Defesa (MD), coordenado pela Secretaria-Geral da Presidência da República (SG/PR).


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