Bilhões em financiamento impulsionam a destruição ambiental em Rondônia

Bancos e dinheiro público sustentam o avanço do desmatamento na Amazônia Ocidental
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Voz da Terra
21 março 20254 minutos de leitura
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Na BR-319, o agronegócio avança com dinheiro público, a floresta virou pasto e as Castanheiras estão condenadas. (Foto por João Laet/SUMAÚMA. Brasil.)

Entre janeiro de 2018 e agosto de 2024, bancos públicos e privados destinaram R$ 9 bilhões para 24 mil cadastros ambientais rurais (CARs) na região conhecida como Amacro — um território de expansão do agronegócio que inclui partes do Amazonas, Acre e Rondônia. O montante, concedido sem critérios ambientais rigorosos, tem sido um dos principais motores do desmatamento acelerado da Amazônia Ocidental. As informações foram divulgadas pela jornalista Catarina Barbosa do portal Sumaúma.

Embora as instituições financeiras afirmem seguir protocolos de sustentabilidade, a realidade no campo mostra um cenário diferente. Parte significativa desses financiamentos está associada à conversão de florestas em pastagens e plantações de grãos, principalmente soja e milho. Em Rondônia, esse fenômeno se intensificou nos últimos anos, colocando o estado entre os que mais desmatam na Amazônia Legal.

Expansão do agronegócio e destruição da floresta

Rondônia tem se consolidado como um dos principais polos de expansão do agronegócio na Amazônia. Os incentivos financeiros viabilizam a abertura de novas áreas para pecuária e agricultura intensiva, ampliando a conversão de terras que antes eram florestas densas. Dados de monitoramento mostram que o desmatamento no estado cresceu de forma alarmante nos últimos anos, impulsionado por investimentos em grandes propriedades rurais.

A concessão de crédito rural sem fiscalização efetiva tem permitido que terras desmatadas de forma irregular sejam convertidas em áreas produtivas. Segundo ambientalistas, não há mecanismos eficientes para impedir que o dinheiro financie atividades que violam legislações ambientais, permitindo que produtores utilizem os recursos para expandir propriedades sem respeitar os limites de conservação.
O papel dos bancos e do dinheiro público

Os recursos que financiam esse modelo de expansão não vêm apenas do setor privado. Uma parte considerável do dinheiro é oriunda de linhas de crédito subsidiadas pelo governo federal, destinadas a incentivar a produção agropecuária. No entanto, não há exigências claras que vinculem esses financiamentos ao cumprimento de boas práticas ambientais, criando um ambiente favorável para a destruição da floresta.

Em muitos casos, proprietários rurais que desmataram ilegalmente continuam acessando crédito normalmente, sem sanções por parte dos bancos. A ausência de mecanismos eficazes de controle faz com que o setor financeiro continue injetando dinheiro em áreas onde a degradação ambiental avança rapidamente.

Um dos desafios apontados por especialistas é a dificuldade de monitorar como o dinheiro está sendo utilizado. Como os financiamentos são concedidos com base em declarações dos próprios beneficiários, há pouca transparência sobre o real impacto dessas operações no avanço do desmatamento.

A ausência de critérios ambientais e seus impactos

A falta de exigências ambientais mais rígidas para a concessão de crédito rural tem levado a um modelo de desenvolvimento econômico que prioriza a expansão da fronteira agrícola sem considerar os danos ambientais. Em Rondônia, a conversão de florestas em pastagens tem alterado drasticamente a paisagem, reduzindo a biodiversidade e aumentando os riscos de degradação dos recursos hídricos.

Sem um controle mais rigoroso, a tendência é que o desmatamento continue crescendo, impulsionado por incentivos financeiros que não exigem compromissos reais com a conservação ambiental. Organizações ambientais defendem mudanças urgentes nas políticas de crédito rural, incluindo a obrigatoriedade de práticas sustentáveis como contrapartida para o financiamento.

Entre as propostas sugeridas por especialistas estão a criação de um sistema de monitoramento independente para rastrear o uso dos recursos e a suspensão de financiamentos para propriedades envolvidas em desmatamento ilegal. Essas medidas poderiam reduzir significativamente o impacto da atividade agropecuária sobre a floresta amazônica.

O futuro da Amazônia sob pressão econômica

O modelo atual de financiamento do agronegócio na Amazônia Ocidental, especialmente em estados como Rondônia, coloca em risco a integridade do bioma e sua capacidade de resistir às mudanças climáticas. Enquanto os bancos continuarem concedendo crédito sem exigir contrapartidas ambientais claras, o desmatamento continuará avançando em ritmo acelerado.

Para reverter esse cenário, é essencial que governos, instituições financeiras e produtores rurais adotem práticas mais sustentáveis, garantindo que o desenvolvimento econômico ocorra sem comprometer a preservação da floresta.

A crise ambiental que afeta a Amazônia não é resultado apenas da ação de madeireiros ilegais ou grileiros, mas também da falta de responsabilidade no uso dos recursos financeiros que alimentam o desmatamento. Sem mudanças nas políticas de crédito e fiscalização mais rígida, o futuro da maior floresta tropical do planeta seguirá ameaçado.



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