Professora quilombola relata prejuízo de R$ 200 mil após queimadas de 2024 em Rondônia

Compartilhe no WhatsApp
Voz da Terra
2 abril 20254 minutos de leitura
0
Fogo das queimadas no Quilombo Pedras Negras em 2024, RO. (Foto: Cedida- Moradores)

Por Francisco Costa – Voz da Terra - Entre julho e dezembro de 2024, as queimadas atingiram em cheio os territórios quilombolas de Rondônia. A comunidade de Pedras Negras, localizada no município de São Francisco do Guaporé, foi a mais afetada. 

A média de poluição do ar por material particulado fino (PM 2.5) chegou a 44 microgramas por metro cúbico, quase o triplo do limite seguro definido pela Organização Mundial da Saúde.

A fumaça gerada pelo fogo não só afetou o ar que a população respirava, mas trouxe prejuízos diversos.


Dados do Copernicus e do IBGE, mostraram que outras comunidades quilombolas de Rondônia, como Santa Fé, Forte Príncipe da Beira, Vale do Guaporé, Laranjeiras e Santo Antônio do Guaporé, também registraram níveis críticos de poluição. A fumaça afetou não só a saúde, mas toda a dinâmica econômica dessas comunidades que vivem da agricultura, da pesca e do turismo.

Irineide Rodrigues vive no Quilombo Pedras Negras em São Francisco do Guaporé (RO), desde 2005. Pedagoga e mestre em linguística africanística, ela chegou por meio de uma expedição universitária e nunca mais saiu. 

As queimadas de 2024 causaram muitas mudanças na vida das famílias. “Tivemos um prejuízo de mais de R$ 232 mil. As bebidas venceram, os aviões não conseguiram pousar por causa da fumaça”, diz. A pedagoga atua na educação e no turismo comunitário.

O período de pesca é o auge da economia no Quilombo. Pacotes de viagens chegam a custar R$ 1.500 por pessoa, com transporte, alimentação e hospedagem inclusos. Mas tudo desmoronou depois que o fogo invadiu as florestas locais. “Com a fumaça, os aviões não desciam. Ficamos com a estrutura vazia. Foram prejuízos para mais de R$ 200 mil só aqui. Toda a comunidade perdeu.”

Além do turismo, a castanha da Amazônia é outra base econômica. “Só daqui saem 600 toneladas por ano. Mas o fogo destruiu tudo. Acabou. Até agora só temos umas oito sacas. É um baque.” Segundo ela, o produto é vendido principalmente para atravessadores da Bolívia, que chegam com mercadorias em troca da castanha.

Na saúde, o cenário também causou preocupações. “A maioria das crianças vivia gripada, com nariz escorrendo e tosse. Os mais velhos tiveram complicações. Minha sogra, matriarca da comunidade, teve falta de ar e dor no pulmão. Foi para Porto Velho fazer tratamento.”

Para 2025, com a previsão de um novo El Niño, a preocupação só aumenta. “A seca do rio afeta tudo. Não escoa produto, não chega mercadoria. Estou montando um relatório para pedir apoio. Aqui estamos sem renda.”

Professora Irineide Rodrigues, moradora do Quilombo Pedras Negras, RO, estimula a educação e levou iniciativas de formação para a comunidade. (Foto: @ Francisco Costa - Voz da Terra)

Mais políticas públicas

A professora aposentada conta que começou a trabalhar com as comunidades quilombolas da região após perceber que os estudantes paravam na 4ª série por falta de acesso à educação. 

Em parceria com universidades e outras instituições, participou da criação de um projeto para levar professores até as comunidades. “Era tudo na raça, mas conseguimos implantar uma base educacional.”

A comunidade de Pedras Negras tem uma única escola, a Euclides da Cunha, mantida pelo estado e pela prefeitura de São Francisco do Guaporé. Há 22 alunos matriculados no ensino presencial para crianças e remoto para jovens e adultos. (Foto: @ Francisco Costa - Voz da Terra)

A educadora também ajudou a incentivar os moradores a criarem pousadas para turismo de pesca. “Eu dizia: quem tem que ter pousada aqui são os filhos da terra. Começamos devagar, mas fomos construindo.” Hoje, a pousada dela comporta 32 pessoas e gera cerca de 15 empregos, principalmente para barqueiros.

A escola onde Irineide atuava até se aposentar é uma das únicas da região. Atende com salas multisseriadas e professores de fora. “Começamos com cursos online, mas só uma pessoa se formou até agora. Nosso objetivo é que a educação permaneça nas mãos de quem é daqui.”

Irineide que é uma liderança do Quilombo, afirma que o seu povo precisa de ajuda. “Se puder, ajude a divulgar. A gente precisa de apoio. Nosso povo tá aqui, resistindo, mesmo com tudo contra”.

Quilombo Pedras Negras em São Francisco do Guaporé, RO. Foto: @ Francisco Costa - Voz da Terra)


LEIA TAMBÉM: 





Siga no Google News

Postar um comentário

0Comentários

Postar um comentário (0)

#buttons=(Ok, estou ciente!) #days=(20)

Nosso site usa cookies para melhorar a experiência de navegaçãoSaiba Mais
Ok, estou ciente!