![]() |
Fronteira agropecuária, a Amacro é financiada por bancos públicos e milhões de reais em crédito rural chegam às mãos de desmatadores, o que acelera o colapso ambiental. (Foto: João Laet/SUMAÚMA) |
Desde março de 2024 SUMAÚMA vem mergulhando em uma área específica da Amazônia brasileira, a Amacro, para desvendar um ciclo devastador: como forças políticas e econômicas, com aval e dinheiro público, aceleraram a morte da maior Floresta tropical do planeta. Nesta investigação inédita, analisamos agendas políticas, documentos governamentais e acadêmicos, dados de financiamentos do Banco Central, números do desmatamento e punições por infrações ambientais. Foram mais de 2 mil quilômetros percorridos por estradas, seguindo o caminho do dinheiro que flui do crédito rural – um empréstimo com juros baixos que tem sido um dos motores financeiros da destruição do bioma estratégico para barrar o aquecimento global. Com acesso a 65.315 empréstimos, cruzamos informações detalhadas para traçar o perfil dos beneficiários, das instituições financeiras e, sobretudo, do destino do dinheiro que sustenta quem mata a Amazônia e compromete o futuro de gerações. As conclusões são assustadoras, pelo que revelam e pelo impacto que produzem.
No quilômetro 120 da BR-319, que liga Manaus a Porto Velho, a cena cotidiana de uma fazenda mostra tratores e máquinas de pulverizar agrotóxicos dividindo espaço com sacos de fertilizantes em um galpão de mais de 60 metros de comprimento. As duas portas abertas naquele domingo permitem ver mais desse maquinário na parte de dentro. A Fazenda Arco Íris pertence a Juares Monteiro e teve, em outubro de 2019, parte de sua área embargada por “infração da flora”: ele retirou as árvores de 217 hectares sem a autorização dos órgãos ambientais. Embargo é uma medida administrativa que bloqueia as atividades econômicas de uma terra para evitar que o dano ambiental flagrado nela avance. Juares foi multado em pouco mais de 1 milhão de reais, um valor que ainda aparece em aberto, cinco anos depois, nas bases do Ibama.