Enchentes no Rio Madeira: uma nova crise humanitária em Rondônia

Os governos permanecem despreparados para assegurar dignidade e segurança às comunidades ribeirinhas
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Voz da Terra
12 abril 20254 minutos de leitura
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Distrito de São Carlos, localizado no Baixo Madeira, em Porto Velho (RO). (Foto: Laércio Cavalcante / MAB)

(*) As enchentes do Rio Madeira voltaram a colocar em risco a vida e a dignidade de milhares de pessoas em Rondônia. De acordo com o Boletim de monitoramento do Serviço Geológico do Brasil (SGB), ontem (09), o rio alcançou 16,71 metros em Porto Velho. 

Segundo a Defesa Civil Municipal de Porto Velho, cerca de 10.785 pessoas já foram atingidas em 29 comunidades. Além da capital, as comunidades do Baixo Madeira também enfrentam problemas graves devido à cheia, as comunidades de Ressaca, Maravilha I, Maravilha II, Vila Nova e Vila do Calama estão entre as mais atingidas.

De acordo com a Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA), o risco de catástrofe ambiental na região é considerado moderado. 

Contudo, a previsão é de mais chuvas até meados de abril. Atualmente, 36 comunidades, com aproximadamente 33 mil pessoas, estão em estado de alerta, e a situação se agrava com a crescente insegurança e a falta de recursos necessários para a sobrevivência dessas famílias.
Histórico de crise

Em 2014, Rondônia enfrentou a maior enchente já registrada, um evento extremo considerado centenário, em 2023 e 2024, o estado sofreu com uma seca prolongada, levando o Rio Madeira a registrar o menor nível desde o início do monitoramento, em 1967, com apenas 25 centímetros na capital, Porto Velho. 

Essa oscilação extrema entre enchentes e secas evidencia a fragilidade do sistema hídrico da região.
Impactos nas Comunidades

As enchentes têm causado perdas significativas na produção agrícola local, especialmente na produção de farinha e banana. Muitas famílias também estão isoladas devido ao aumento do nível do rio, o que dificulta o acesso a serviços básicos e recursos essenciais. 

Para atender às necessidades emergenciais, foram estabelecidos três abrigos para acolher as famílias atingidas, já que muitas dessas pessoas tiveram que deixar suas casas, que foram completamente tomadas pela água. Essas famílias perderam seus lares e suas fontes de subsistência.
Governos despreparados e atuação do MAB

Apesar dos desafios enfrentados com os históricos de secas e enchentes, os governos tem sido incapazes de lidar com os extremos, falhando em garantir dignidade e segurança às comunidades ribeirinhas, faltando planejamento e resposta eficaz em situações de emergência.

Diante dessa realidade, em março deste ano, o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) organizou um ato na Prefeitura de Porto Velho, reunindo cerca de 300 pessoas de 22 comunidades que sofrem com a seca e as enchentes na região do Rio Madeira. Durante a reunião, com o recém-eleito prefeito Léo Morais, foram apresentadas as demandas emergenciais e estruturantes dessas comunidades, que têm enfrentado os impactos das crises.

Como resultado, foi proposta a criação de um canal de diálogo direto entre o Movimento e a prefeitura, por meio de um Grupo de Coordenação Estratégica, para tratar das ações urgentes a serem implementadas. Essa iniciativa foi viabilizada após instituições de justiça em conjunto com o MAB moverem uma ação judicial contra a União, o estado e o município, exigindo a elaboração de um plano integrado para enfrentar essas crises hídricas e humanitárias recorrentes.

O Movimento dos Atingidos (MAB) tem atuado junto ao Grupo de Trabalho de situação da Prefeitura de Porto Velho, para atender as famílias em situações emergenciais e continua pressionando para que cheguem cestas de alimentos, água potável e produtos essenciais para as famílias isoladas e nos abrigos. 

O movimento também está acompanhando o envio desses suprimentos para os distritos afetados, como Calama e áreas demarcadas de São Carlos, onde já existem abrigos prontos ou em construção para as famílias desalojadas. A demanda é urgente, e a Defesa Civil está trabalhando em conjunto para garantir o transporte desses itens. 

“Um barco já está descendo para o distrito de Calama, e uma segunda embarcação está sendo construída para São Carlos, onde há uma emergência por falta de água potável, atingindo mais de 400 famílias”, afirmou Océlio Muniz, da coordenação do MAB. O Movimento já distribuiu 25 mil litros, cestas e kits de higiene e limpeza no Baixo Madeira em parceria com a Prefeitura, hoje (10) outro barco segue em direção às comunidades.

De acordo com Océlio, o MAB também está levando à Defesa Civil do município a demanda por um diagnóstico das perdas de produção das famílias. “O objetivo é obter ajuda emergencial e auxílio financeiro para a reconstrução das nossas comunidades. Essa ação será realizada em duas frentes: a avaliação da perda de produção e a reconstrução das casas. 

Estamos pautando junto à Defesa Civil e às secretarias competentes a necessidade de um planejamento para dar respostas efetivas a essas duas demandas prioritárias. Nesse sentido, as lideranças comunitárias estão acompanhando de perto essa incidência junto à prefeitura. Paralelamente, nós do Movimento estamos construindo a proposta de criar uma Brigada de Ação do MAB, para acompanhar diretamente as famílias, estabelecendo pontos de apoio nas comunidades”, afirmou.

A situação das enchentes no Rio Madeira exige uma atenção urgente e medidas efetivas por parte das autoridades, para que ações imediatas sejam implementadas com objetivo de proteger as comunidades vulneráveis e garantir um suporte adequado durante mais uma crise humanitária.

(*) por Jordana Ayres - do Movimento dos Atingidos por Barragens - MAB.


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